sábado, 6 de maio de 2017

Palestra de aprofundamento do tema


Na tarde deste sábado (06/05/2017) a Editora COOPACESSO acolheu mais um encontro de formação aprofundando o tema do projeto “Poemas da Cidade” deste ano de 2017, Santo André: em teus lares há pão e agasalho, ministrada pelo professor Roberto Rodrigues de Andrade Júnior*. Clique AQUI e assista na íntegra o conteúdo desta palestra.


Na oportunidade, Roberto pôde trazer inúmeras e importantes reflexões conceituais relacionadas ao tema, como a transformação que a cidade viveu ao longo de sua história vem influenciando o comportamento das pessoas e oferecendo características diferentes que mudam não apenas a paisagem, mas a vocação da cidade.

 

Além disso, o público presente pôde aprofundar e refletir sobre papel das entidades, em particular do Instituto Monsenhor Antunes, na garantia do pão ao invés da comida, do agalho ao invés da roupa; dos lares ao invés da casa... Porque as pessoas “não quer só comida... quer comida, diversão e arte”.


Palestra em resumo:

“Aqui na cidade ninguém morre de fome e de frio”...

Morador de rua 

Conceitos

1- Conceito de casa: Nome genérico de todas as construções destinadas a habitação; construção destinada a uma habitação, geralmente unifamiliar, por oposição a apartamento; local de habitação; domicílio, moradia, residência.

 

2- Conceito de lar: local onde mora uma família; instituição que fornece serviços e assistência a um grupo específico de pessoas (ex.: lar de estudantes,  lar de idosos); terra onde alguém nasce; pátria.

 

3- Conceito de pão: símbolo de sustento e até da própria vida; apropriado para todas as horas e todas as fases da vida; é um alimento democrático (restaurantes sofisticados e nas ruas e nos mercados populares).

 

A história do pão se confunde com a da humanidade. É símbolo de qualquer alimento diário, essencial a todo ser humano. Não se pode viver sem alimento. Não se pode viver sem pão. O simbolismo do pão está ligado ao simbolismo da vida.

 

O pão continua sendo um alimento essencial ao ser humano, continua universal, portador de sentidos múltiplos, sagrado, indispensável, cultural, civilizado e, principalmente, gostoso. Tem razão Heinrich Eduard Jacob quando escreve em seu livro Seis mil anos de pão que "não há neste mundo um pedaço de pão que não tenha sido amassado também pela religião, pela política e pela técnica". Maria Beatriz Dal Pont, chef de cozinha. 

 

Na religião cristã o pão foi indicado para ser o próprio corpo de Deus.

 

Podemos concluir que falta de pão é igual a falta de vida.

 

4- Conceito de roupa: Conjunto de peças de vestuário (roupa de bebê, roupa de marca); peça de tecido de uso doméstico (roupa de cama; roupa de cozinha).

 

5- Conceito de agasalho: acolhimento feito a quem nos procura; hospedagem; roupa de abrigo; comodidades da vida; o que se considera como dando calor ou alento.

 

As origens

Para falar da cidade de Santo André nos deparamos como a fundação de uma vila por João Ramalho (um forasteiro), que se uniu à índia Bartira (uma nativa do local), filha do cacique Tibiriçá, da tribo dos Guaianases. Grande parte da população da cidade descende de imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, japonês, e alemães. Este relato nos leva a entender que Santo André é acolhedora desde sua origem.

 

Nome da cidade relacionada ao Santo André, da igreja Católica, que foi discípulo de João Batista e o primeiro discípulo de Jesus. Era um homem ligado à religião e estava em busca de algo mais. Talvez venha daí a inspiração do povo... “Teu formoso destino pertence aos que lutam por um ideal!”

 

De Israel Patras, na Grécia, local do seu martírio, foi condenado à crucificação. Santo André foi pregado numa cruz em forma de “X”, contido no brasão da cidade.

 

As transformações

1- Crise econômica: De “Gigantesco viveiro industrial” a partir 2ª metade dos anos 1980, a economia era marcada pela indústria metalúrgica, enfrentar outra realidade, empresas começaram a sair da cidade, cresce o desemprego, a partir dos anos 1990, o setor de comércio e serviços começou a crescer - opção. Cresce o desemprego e a situação de pobreza.

 

2- Cresce a carência: Necessidade de pessoas para ajudar os vulneráveis sociais (temos cerca de 80 entidades sociais na cidade); entidades antigas, de 1990 até os dias atuais vem aumentando o número de ONGs na cidade.

 

Não só de pão...

Muitas dessas pessoas já se acostumaram com pouca comida e simples roupas usadas; é só básico, mas isso não faz tanta diferença; Geralmente a sociedade não se lembra do importante, só se lembra do básico. Mas a vida é bem mais que isso.

 

Vida boa pra todos...

Na década de 80 cantávamos: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida a gente quer saída para qualquer parte”. O povo simples tem mais que carência de pão e água, tem de vida, de paixão, de toque, de abraço, de atenção, de tempo investido.

 

Ou é para todo mundo ou não é pra ninguém

A gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor. A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade”.

 

Para alguns privilegiados isso é muita pretensão, pura ousadia. Talvez seja, mas se for ousadia, deve virar prática, no real e pra todos. Viva a ousadia de viver!

 

Concluindo

Na era das liberdades, os carentes eram ignorados, eram simplesmente deixados de lado. O mundo evoluiu e na chamada revolução tecnológica os ignorados passaram a ser invisíveis.

 

Que “bons tempos” para os da invisibilidade! Hoje na era dos “coxinhas sociais”, os carentes voltaram a ser vistos, não como seres humanos de direitos e dignidade, mas como a sujeira que necessita ser limpa, como praga que precisa ser eliminada.

 

“Os Coxinhas sociais”

Temo pela vida dos carentes e excluídos, hoje em dia a intolerância dos “bacanas” ameaça o diferente. A “superioridade” dos “coxinhas” lhes garante o “direito“ de decidir sobre quem vive ou não, quem existe ou desaparece.

 

Na época “dos coxinhas” chego achar que Hitler seria um mero e ingênuo estagiário dessa limpeza social.

 

Mas a luta continua

Mas apesar de tanta barbaridade com os carentes, ainda fico com a “pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita”. Voltar a viver de forma a não ter vergonha de ser feliz e acreditar que o mundo pode ser perfeito quando descobrir que quem tem mais do que precisa ter pode dividir, que o mais simples será visto como o mais importante.

 

Sonhar como o João do Santo Cristo quando estiver em Brasília com o diabo e poder dizer para ele, o presidente, “pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer”. A luta continua...


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* Roberto Rodrigues de Andrade Júnior, 55 Anos, casado, nascido em Santo André. É Pós-graduando em Psicanálise, Mestre em Ciências da Religião em Bíblia, Pós Graduado em História / teologia / Cultura judaica; Teologia – Filosofia e Engenharia Agrícola. É Diretor Técnico Administrativo do Instituto Monsenhor José Benedito Antunes; Professor na Escola Popular de Teologia ABCD: - Professor de História de Israel, Liturgia, Evangelhos, Teologia de Família, Atos dos Apóstolos e Escatologia; Professor de pós-graduação em Ensino Religioso na UNIFAI. Tem participação em alguns conselhos tais como Conselho Municipal Direitos das Crianças e Adolescentes CMDCA-SA de 2013 - 2017 ocupando as funções vice-presidente e presidente; Conselho Municipal de Assistência Social CMAS-SA, 2004-2017 ocupando as funções de secretário, vice-presidente e presidente; Conselheiro da ouvidoria de Santo André 2013-2017; Coordenador geral região SP-2 Conselho Nacional do Laicato do Brasil CNLB - Estadual, gestão 2013-2016; Presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil CNLB - Diocese de Santo André (Região ABCDMRR), 2009 – 2017.

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